Rio de Janeiro, RJ, 02/10/2024 – Painel 4 – A nova TVRO e a TV 3.0 via satélite – Yvan Cabral, CEO da Vivensis, Guilherme Saraiva, diretor de vendas da Embratel, Sérgio Ribeiro, VP de operações da Sky, Ana Eliza faria e Silva, senior regulatory manager da Globo, durante o Congresso Latinoamericano de Satélites 2024, realizado no Hotel Marapendi, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. Foto: Rudy Trindade/Themapress
O mercado de TV está passando por um movimento silencioso, mas de grandes proporções, na forma como os sinais chegam aos espectadores. A cada mês, cerca de 600 mil novos usuários por mês passam a utilizar as transmissões via satélite em banda Ku (TVRO) para receberem cerca de 74 canais de TV aberta (150 se contados os sinais regionais das emissoras de TV) com qualidade digital. Esse movimento é crítico para assegurar a relevância da TV aberta, mas também tem impactos importantes no mercado de TV paga e de streaming.
A expectativa trazida pelos especialistas que participaram de um debate sobre a TVRO durante o Congresso Latinoamericano de Satélites nesta quarta, 2, é de que em pouco tempo, até o final de 2025, este mercado de TV aberta por satélite chegue a nada menos do que 20 milhões de usuários. Hoje, segundo dados dos fornecedores e emissoras, são cerca de 10 milhões de equipamentos vendidos no varejo ou distribuídos por meio da política pública estabelecida no leilão de 5G e hoje sob responsabilidade da Siga Antenado (EAF). A maior parte desses usuários da TV aberta via satélite é das classes C, D e E, de menor renda, o que reforça a relevância desse novo mercado.
Ou seja, nesse momento a TVRO em banda Ku já supera a base de TV por assinatura no Brasil e em breve, com pouco mais de três anos desde o início do processo, o número de usuários de TVRO em banda Ku terá passado os números que o mercado apontava como base da banda C no Brasil e também superado o melhor número que a TV por assinatura já teve.
Vale contextualizar: a TVRO em satélites que operavam em banda C existe há décadas no Brasil, mas por muitos anos foi um produto com pouca ou nenhuma evolução tecnológica e quase nunca lembrado. No momento em que a faixa de 3,5 GHz foi licitada pela Anatel para ser usada para o 5G, foi preciso desocupar a banda C e forçar a migração desse mercado para outras faixas de frequência, utilizando novos satélites em banda Ku (o da Embratel, que recebe os usuários do Cadastro Único contemplados na política pública de migração, e o da Sky, que viu uma oportunidade de mercado). Esse movimento decorrente de uma política pública foi o estopim para a explosão do mercado de um novo mercado, com milhões de equipamentos sendo vendidos e forte interesse dos radiodifusores em estar presentes na nova plataforma de distribuição.
Inovação
Mas mesmo sendo um mercado novo, a TVRO em banda Ku já nasce sob a pressão de precisar competir com serviços de streaming e pelos debates sobre a TV aberta 3.0, que começará a dar os primeiros passos no Brasil a partir de 2025. Ou seja, a TV via satélite precisa também encontrar uma forma de ser integrada com os serviços oferecidos pela Internet.
Para Sérgio Ribeiro, VP de operações da Sky, que oferece o serviço “Nova Parabólica”, que é a mesma TVRO, porém pelo satélite da Sky, não tem como uma operadora de TV paga via satélite (caso da Sky) ficar fora desse movimento. “Hoje, para nós, é uma possibilidade de trazer o cliente para mais serviços, com o acesso pré-pago, caso queira, aos canais pagos. E não tem porque a gente não pensar até em um futuro com esse serviço integrado à banda larga via satélite”, diz. Vale lembrar que a Sky é a parceira da Amazon Kuiper para a oferta de banda larga residencial no Brasil, o que deve começar a acontecer no final de 2025 ou começo de 2026. Outra possível evolução é a inclusão de canais FAST.
A Embratel, que opera o satélite adotado na política pública, também comemora o avanço e vê novas oportunidades. Segundo Guilherme Saraiva, diretor de vendas da empresa responsável pelo produto, já estão sendo discutidas formas de utilizar o sinal do satélite para introduzir conteúdos que possam ser integrados a conteúdos de Internet. Aliando-se isso a receptores conectados e com capacidade de rodar aplicativos, diz ele, o potencial de evolução da TVRO é imediato.
Mercado
Ana Eliza Faria, gerente regulatória sênior da Globo, diz que ainda não existe uma resposta sobre como será a integração da TV digital 3.0. Evolução da TV digital terrestre, a TV 3.0 tem padrões ainda sendo definidos em política pública e está na fase inicial de desenvolvimento de equipamentos comercialmente viáveis. Para ela, apesar de haver uma preocupação para que haja essa integração com o satélite, ainda é algo distante, mas acredita que existe espaço para que a solução venha do próprio mercado, seja através de set-tops de recepção de TVRO conectados, seja por meio de TVs conectadas.
Ela comemora, contudo, os números da TVRO. “Sempre acreditamos no potencial desse mercado, e os números estão confirmando o que a gente dizia: quando a transição chegasse ao interior, iria acelerar”, diz ela.
Yvan Cabral, presidente da fabricante de equipamentos Vivensis, diz que o ritmo de adoção da TVRO é tão intenso que existe hoje alta demanda por instaladores, o que é um desafio adicional. Mas ele vê também oportunidades, e começa a apostar em caixas de recepção mais avançadas, que incluem conexão à banda larga, acesso a aplicativos de streaming e até mesmo acesso a serviços do Google. “A gente deve lançar em breve uma caixa que vai trazer a experiência da TV 3.0, com a entrega dos sinais por satélite e também pelos aplicativos de streaming das emissoras”, diz. Ele revela que já existem conversas para esse equipamento incluir ainda o acesso aos serviços da Sky e admite conversas iniciais com a Claro TV também.
Por Samuel Possebon / Tela Viva